Segundo a OMS, a segunda maior causa de morte acidental, em todo o mundo, são as quedas. Estas podem ocorrer em qualquer idade; no entanto, tornam-se um problema quando acontecem nas pessoas de idade avançada, principalmente pela possibilidade de repetição, assim como pelas consequências que podem advir da mesma.
A queda é um evento multifatorial que pode motivar perturbações emocionais, físicas, impotência funcional e morte. Para além da idade, outros fatores contribuem para o aumento do risco de queda, nomeadamente: existência de quedas prévias, ausência de prática de atividade física, polimedicação, diminuição da acuidade visual, do tempo de reação, falta de equilíbrio e de força muscular, demência, patologias osteoarticulares, entre outros.
Os números ilustram bem a realidade vivida nas instituições de saúde em Portugal. As principais vítimas destas quedas são a população idosa, ou seja, acima dos 65 anos. Segundo o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, em Portugal, em 2020, as quedas ocorridas em ambiente doméstico e de lazer levaram 45000 idosos aos serviços de urgência. Destes, um grande número irá apresentar uma fratura (muitas vezes da anca), que se traduz em perda de funcionalidade com inevitável dependência de terceiros, para além de desfechos por vezes fatais.
E, tal como diz o provérbio, “mais vale prevenir do que remediar”. Esta prevenção começa em casa, adotando alguns cuidados que poderão ser uma mais valia para evitar quedas e, naturalmente, as suas consequências. Quando se fala em prevenção, há duas estratégias que devem ser tidas em atenção:
- As que promovem a capacidade física do idoso;
- As que promovem o ambiente seguro para o mesmo.
Promoção da capacidade física do idoso
Relativamente à promoção da capacidade física do idoso, há dois objetivos essenciais que devem estar presentes – os ganhos de força muscular e de equilíbrio. O idoso deve ser incentivado a participar em programas de atividade física, que irão permitir melhorar a sua força muscular, o seu equilíbrio, mas também prevenir doenças silenciosas como a osteoporose, que aumenta o risco de fraturas ósseas e, tantas vezes, se encontra não diagnosticada e não tratada, apenas sendo descoberta aquando de uma primeira fratura após queda.
A atividade física pode ser realizada no exterior, mas também dentro de casa, sempre devidamente adaptada à condição de saúde do idoso. Idealmente, deverá realizar-se duas horas e meia de atividade física, dividida ao longo da semana (ex.: 3x/semana). A escolha do tipo de atividade deve ter por base as capacidades do idoso, assim como o seu gosto pessoal, nunca descurando o aquecimento inicial e progredindo lentamente o nível de exigência dos exercícios.
Alguns exemplos de atividades que podem ser realizadas incluem: exercícios de ginástica (com reforço na mobilidade e flexibilidade articular e resistência muscular), caminhar, nadar e andar de bicicleta.
A prática de exercício físico vai permitir melhorar o tempo de reação, a flexibilidade, a força muscular, o equilíbrio, contribuindo ainda para prevenir a perda de massa óssea, ou seja, interferir diretamente em vários fatores de risco de queda.
Relativamente à promoção do ambiente seguro, é pertinente compreender que há fatores associados ao espaço físico que podem aumentar o risco de queda, pelo que se torna imprescindível identificar os obstáculos habitualmente presentes em casa: tapetes; iluminação deficiente ou excessiva; fios elétricos soltos; corrimões inseguros ou descontínuos; falta de barras de apoio; piso degradado, desnivelado ou escorregadio; degraus estreitos, irregulares, altos, escorregadios e sem corrimão; má organização do próprio espaço (ex.: mobília em quantidade excessiva ou de difícil acesso); camas demasiado altas ou baixas; passeios em redor da casa irregulares, escorregadios devido a chuva, neve ou musgo; animais domésticos.
Devemos, ainda, identificar os espaços mais frequentemente usados, na residência, pelo idoso, para priorizar as intervenções de melhoria. São habitualmente o quarto, a casa de banho, a sala e a cozinha. Algumas adaptações no domicílio torná-lo-ão mais seguro e sem investimentos dispendiosos. Estas adaptações deverão ir ao encontro da segurança do espaço envolvente, nomeadamente:
ILUMINAÇÃO:
- Aumentar a potência das lâmpadas (nos casos de iluminação deficiente);
- Colocar iluminação extra nos locais da casa com maior risco de queda;
- Colocar luzes de presença no trajeto quarto/casa de banho;
- Os interruptores devem estar ao alcance do idoso e ter um dístico luminoso para ser visto no escuro;
- Os fios elétricos devem estar presos à parede;
- Substituir cortinas opacas por transparentes.
CHÃO:
- Preferir pisos antiderrapantes;
- Manter o chão livre de objetos, como fios elétricos;
- Evitar pisos molhados ou encerados;
- Colocar os móveis de modo a que não impeçam a circulação;
- Remover tapetes ou, pelo menos, substituir tapetes soltos por antiderrapantes ou fixá-los ao chão;
- Colocar tiras antiderrapantes e fluorescentes, no fim de cada degrau.
SALA:
- O sofá/cadeirão deve ter apoio de braços;
- Deve ter uma altura que permita ao idoso estar sentado com os dois pés no chão e com os joelhos dobrados a 90º;
- Os assentos baixos podem ser compensados com a colocação de almofadas;
- Os assentos altos podem ser compensados cortando os pés.
CASA DE BANHO:
- Preferir base de chuveiro, em vez de banheira;
- Colocar barras de apoio nas zonas de maior risco (junto à sanita, lavatório e chuveiro);
- Colocar tapete antiderrapante na base de chuveiro, bem como fora do mesmo;
- Colocar um banco de apoio na base de chuveiro;
- Colocar alteador de sanita, nos casos de sanita muito baixa.
QUARTO:
- A cama deve ter a altura adequada: quando sentado na beira da cama permitir dobrar os joelhos a 90°;
- A organização do mobiliário deve permitir o fácil acesso, bem como a fácil circulação com auxiliares de marcha, como andarilhos;
- As grades só devem ser usadas quando o idoso não consegue sair sozinho da cama de forma a evitar que role da cama e devem ter o comprimento da cama;
- Se a cama tiver rodas, manter as mesmas travadas.
QUINTAL:
- Mantenha o quintal livre de folhas e flores húmidas no chão;
- Cuidados redobrados com animais de estimação, principalmente cães e gatos.
Para evitar as quedas em casa, é ainda necessário abandonar hábitos que, à primeira vista, parecem inofensivos, mas que podem tornar-se perigosos, como:
- Subir a cadeiras, bancos e escadotes instáveis;
- Andar apressado sem reparar nos objetos e animais que o rodeiam;
- Andar sem o apoio de uma bengala ou andarilho, se o mesmo tiver sido recomendado;
- Fechar a porta da casa de banho ou quarto à chave impedindo o acesso rápido, em caso de necessidade;
- Usar calçado pouco estável, como chinelos; preferir sapato fechado, com sola antiderrapante;
- Usar roupa pouco segura, com peças demasiado compridas, que podem fazer tropeçar.
Conclusões
Concluindo, a ocorrência de quedas aumenta com a idade, sendo o espaço habitacional onde estas ocorrem com maior frequência. As medidas preventivas de promoção de um envelhecimento saudável e de promoção de um ambiente seguro são eficazes, fáceis de implementar e permitem reduzir a prevalência das quedas e das suas consequências.
É essencial procurar ajuda dos profissionais de saúde, pois estes estão capacitados para estabelecer programas específicos e individualizados, adaptados a cada idoso, para maior sucesso no objetivo major da prevenção de quedas.
Cláudia Sousa, Enfermeira Chefe do Serviço de Ortopedia da ULSEDV, Mestrado em Enfermagem se Reabilitação, Gestora de processo na consulta FLS da ULSEDV