
Dr. Pedro Cantista
Médico Fisiatra e Professor Universitário, Presidente da Associação Portuguesa de Osteoporose
O exercício é vital para uns ossos fortes
O QUE É A OSTEOPOROSE?
Podemos definir a Osteoporose como uma doença óssea caracterizada pela diminuição da resistência do osso, predispondo a um aumento do risco de fratura*. Antes desta definição surgiram outras que chamavam a atenção para a “qualidade” do osso, nomeadamente a forma como as trabéculas ósseas se distribuem e organizam no osso esponjoso (arquitetura óssea) e não tão-somente para a sua “quantidade”, que geralmente associamos à chamada “densidade mineral óssea” e que podemos avaliar pelas conhecidas técnicas de “densitometria óssea”. Podemos dizer, portanto, que o termo osteoporose se refere a um osso frágil, propenso a fraturar. As fraturas estão associadas a vários factores de risco, o principal dos quais é a idade. A osteoporose pode também surgir em consequência de algumas doenças crónicas (reumáticas, endócrinas, neurológicas, metabólicas) ou da toma prolongada de alguns medicamentos (por exemplo os corticoides ou os anticoagulantes). Nestas situações, falamos de “Osteoporose Secundária”.
*NIH Consensus Statements, March 27-29 2000
O QUE É NECESSÁRIO PARA TER UNS OSSOS “FORTES”?
Devemos assegurar uma alimentação rica em cálcio e em fósforo; assegurar um aporte suficiente de vitamina D (dose diária não inferior a 800 UI); cumprir um programa regular de exercício físico.
Para se ter ossos saudáveis há alguns fatores que não são modificáveis (genéticos, hereditários); mas há muitos outros parâmetros, muito importantes, que dependem de nós, dos nossos comportamentos de saúde. Há hábitos a evitar e atitudes a adotar. Devemos evitar o sedentarismo, o tabaco, os erros na nossa alimentação, como os excessos de álcool, de café, de sal (cloreto de sódio), de proteínas e de bebidas fosfatadas.
A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIO NA OSTEOPOROSE
Vale a pena referir mais alguma coisa sobre o exercício físico, dada a sua enorme importância na prevenção da fragilidade óssea e do consequente risco de fraturas.
Os ossos desenvolvem-se adquirindo uma estrutura adaptativa que melhor possa responder às forças que sobre eles atuam: a força da gravidade (sistemas trabeculares que respondem à “carga”); e as forças musculares antigravíticas (de tração esquelética). Na espécie humana, que se adaptou à posição bípede, podemos dizer grosso modo que os sistemas trabeculares de resistência à carga predominam nos membros inferiores e na coluna vertebral, enquanto os de resposta à tração são mais característicos dos membros superiores. Ora, podendo as fraturas osteoporóticas ocorrer em qualquer um destes sistemas (coluna, anca, colo do úmero, punho), é necessário que através da prática de exercícios programados possamos estimular a formação destas estruturas adaptativas, quer nos sistemas trabeculares de resposta à carga, quer nos de resposta às forças antigravitacionais.
Está provado que a prática de exercício estimula a formação óssea. Desde criança que devemos praticar exercício. Os nossos ossos crescem e atingem o seu pico de massa óssea cerca dos 25-30 anos de idade. Há depois uma tendência a ter progressivamente perdas dessa massa óssea, mas também está provado que esta reabsorção é inibida pela atividade física. Há estudos que demonstram que esta realidade é válida para todas as idades. Acresce dizer que através do exercício podemos melhorar a nossa coordenação de movimentos, os nossos reflexos, o nosso equilíbrio, conseguindo assim diminuir drasticamente o risco de quedas e consequentemente das fraturas a que dão origem.
QUAL O TIPO DE EXERCÍCIO QUE DEVEMOS PRATICAR?
Toda a atividade física é importante. Mas pelo que atrás se disse, devemos implementar um programa de exercício que inclua “carga” (por exemplo, a marcha ou a corrida), mas que não descure a solicitação dos músculos antigravíticos, ou seja, os que exercem tração sobre a coluna (extensores) ou o punho (força de preensão, por exemplo). O exercício tem várias componentes, como a força, a resistência, a velocidade, a flexibilidade e a coordenação. Todas estas variáveis devem ser tidas em conta e contempladas num programa adequado às nossas características individuais: idade, condição física, possíveis patologias ou limitações.
A propósito do exercício, ouvimos por vezes referir que o que é realizado em água/piscina não tem interesse para a osteoporose. Não é correto. Obviamente que, devido ao princípio da impulsão, a carga é tanto menor quanto mais volume do nosso corpo estiver imerso. No entanto, os fatores hidrodinâmicos, nomeadamente a resistência da água ao movimento, permitem muito facilmente promover um desejável fortalecimento muscular. Por outro lado, a água protege muito as pessoas que têm maior risco de queda.
Em conclusão: dada a importância do exercício na nossa saúde, e particularmente na osteoporose, a sua prática deve ser fortemente implementada e devidamente orientada por indicação médica especializada.
Pedro Cantista
Médico Fisiatra e Professor Universitário
Presidente da Associação Portuguesa de Osteoporose