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A Primeira Fratura Osteoporótica: “A caminho de um pesadelo evitável”

Dr. António Tirado Ortopedista no CHULN- H. Santa Maria (Lisboa) e presidente da Sociedade Portuguesa de Osteoporose e Doenças Metabólicas (SPODOM) Recomendações para a gestão da osteoporose durante a pandemia Covid-19 e no futuro Quando a partir dos 50 anos de idade, perante um trauma de baixa energia como a queda da própria altura, uma pessoa que sofre uma fratura costuma minimizar a importância do evento, julgando que se tratou de uma situação de azar e não um sinal de doença.

O tratamento inicial num centro de Trauma conduz depois a um período de reabilitação e seguimento em consulta de Ortopedia, tendo o doente alta posteriormente. Perde-se assim a oportunidade de estudar a osteoporose, frequentemente presente e não diagnosticada, o que deixa o doente em risco de sofrer novas fraturas osteoporóticas.

Estas, também conhecidas como fraturas de fragilidade, refletem uma perda da normal resistência do tecido ósseo, provocando a falência da sua estrutura perante um trauma de baixa energia, ou mesmo de forma espontânea, perante uma carga normal ou habitual.

As fraturas osteoporóticas mais frequentes são as localizadas a nível do punho (rádio distal), ombro, coluna vertebral e anca. A sua localização anatómica tem sido relacionada com a diferente fase etária em que acontecem, sendo as mais precoces no punho e ombro, seguidas das vertebrais e por último das fraturas de anca.

No caso das fraturas de rádio distal e de ombro, frequentemente obtém-se um resultado satisfatório após o seu tratamento, seja este conservador ou cirúrgico, e o doente consegue uma aceitável recuperação da função e qualidade de vida prévias. A redução correta da fratura e uma reabilitação cuidadosa e atempada são fundamentais para obter um bom resultado final. Quando a fratura se localiza a nível da coluna ou da anca, a limitação funcional é mais marcada e pode ter consequências mais sérias.

No caso da fratura vertebral, devemos saber que são muito mais frequentes do que pensamos, porque só um terço do total de casos motiva a ida a um centro clínico. Muito frequentemente só se manifestam como uma dor de costas, crónica ou sub-aguda, que é considerada normal e justificada pela idade avançada do doente, não se dando a atenção devida e podendo conduzir a repercussões mais sérias a longo prazo.

A fratura vertebral de fragilidade aumenta o risco para uma nova fratura em 2,3 vezes a nível da anca e em 4,4 vezes a nível da coluna. Por vezes, o doente sofre sucessivas fraturas de coluna, conduzindo à chamada “cascata da fratura vertebral osteoporótica”, situação que tem sérias repercussões: deformidades da coluna com perda de altura e alterações no equilíbrio, diminuição do espaço nas cavidades torácica e abdominal, alteração das funções respiratória e digestiva, entre outras. Tudo isto pode levar a médio e longo prazo à fragilização progressiva do doente, com um aumento da mortalidade de até 23 %.

Quando a fratura é da anca, a situação ainda parece ser mais grave, observando-se um importante aumento da morbilidade e mortalidade (até 20 a 25 % de óbitos no primeiro ano pós-fratura) e uma perda da função prévia em até 60% dos doentes. E isto acontece mesmo com o melhor dos tratamentos cirúrgicos.

Tendo tudo isto em conta, quando aparece pela primeira vez uma fratura de fragilidade (frequentemente a nível do punho), os profissionais de saúde devem considerar que se trata de um doente com alto risco para nova fratura e que deve ser, por isso, estudado e medicado adequada e precocemente. Na falta desta orientação, deixamos uma lacuna com consequências sérias na saúde futura do doente. Este tem sido um problema demasiado frequente, tanto a nível de centros de trauma como de reabilitação e posterior seguimento dos doentes nos seus centros de saúde. Parecia haver uma falta de responsabilização ou de conhecimento perante a chamada “assassina silenciosa”, a osteoporose, motivadora das fraturas nos doentes em questão.

Atualmente, estamos a promover uma partilha de informações e de trabalho em equipas multi-disciplinares para conseguir um melhor acompanhamento e resultado final nos doentes afetados por este problema. No território nacional têm aparecido progressivamente, embora ainda de forma lenta, novas unidades multi-disciplinares hospitalares que servem para orientar não só as fraturas, como também o estudo e o tratamento da osteoporose existente na maioria dos casos.

Esta abordagem tem sido aplicada mais facilmente nos doentes internados, devendo ser progressivamente oferecida aos outros em que o tratamento é conservador e realizado a nível domiciliário. Estas novas unidades são conhecidas internacionalmente como “FLS” (Fracture Liaison Services”) ou Unidades de Ligação de Fraturas. O seu objetivo primordial é a Prevenção secundária, procurando evitar novas fraturas de fragilidade em quem já sofreu a primeira. Parte fundamental deste trabalho é realizada a nível extra-hospitalar com a integração das unidades de cuidados primários e a inclusão dos doentes, sempre que possível, em programas de prevenção de quedas. A sua implementação a nível nacional, no seguimento do que já acontece em outros países da comunidade europeia, deverá ser uma prioridade nos programas do sistema nacional de saúde, num futuro próximo.

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