Dr. Jorge Dores Endocrinologista do Centro Hospitalar e Universitário do Porto
Professor Auxiliar Convidado do ICBAS da Universidade do Porto Osteoporose: Um relacionamento social pobre pode afetar a saúde dos ossos? Vivemos uma transformação social com tendência para o isolamento familiar de núcleos cada vez mais pequenos e, à medida que envelhecemos, para o isolamento individual consequente ao desaparecimento progressivo dos familiares da mesma geração e do cônjuge. Concorrem para este isolamento cada vez mais confinado ao indivíduo variados fatores desde a redução acentuada do número de descendentes, a organização das famílias que deixaram de co-habitar e conviver com os patriarcas fruto da pressão laboral que obriga ao dispêndio da maior parte do dia fora de casa por ambos os elementos ativos do casal, sem disponibilidade para cuidar e acompanhar os progenitores. A tudo isto se acrescentam as atividades de lazer cada vez mais monopolizadas por comportamentos que propiciam o isolamento como a utilização dos dispositivos pessoais multimédia em casa ou em espaços públicos, empobrecendo a interação social.
Esta tendência para o empobrecimento de interação social enfraquece laços de solidariedade, levando ao isolamento social das pessoas mais frágeis e vulneráveis que são os idosos e destes, as mulheres, geralmente com maior longevidade.
Se temos a noção que este isolamento contribui para o aparecimento de doenças do foro neuro-psicológico como a depressão ou a demência, um estudo publicado recentemente por uma Universidade Americana confirmou que um relacionamento social pobre está associado objetivamente a uma deterioração da saúde do osso em mulheres com idades entre os 50 e os 75 anos. Este trabalho cientificamente bem realizado avaliou um grupo de mais de 11 mil mulheres após a menopausa e avaliou-as em 3 áreas de relacionamento distintas: tensão social, apoio social e funcionalidade social. Dentro destas 3 caraterísticas foram agrupadas de acordo com a pontuação obtida em cada área, avaliada no inquérito realizado no início do estudo. Simultaneamente foi quantificada a densidade óssea da coluna lombar e colo do fémur no início do estudo e 6 anos depois. Constatou-se uma associação forte entre deterioração do relacionamento social e a redução da densidade mineral óssea da coluna e do fémur ao fim dos 6 anos de avaliação. Esta associação foi estatisticamente validada para a tensão e funcionalidade social mas não o apoio social, isto é, a qualidade do relacionamento, representadas pela boa funcionalidade e baixa tensão social é mais importante que a quantidade, representada pelo apoio social. Estes resultados mantiveram-se consistentes quando a população foi ajustada para variáveis importantes como a idade, nível de educação, condições médicas associadas, peso, fumadoras, consumo de álcool, utilização de terapêutica hormonal de substituição, idade da menopausa, atividade física ou história prévia de fraturas.
Este estudo que culmina com a associação entre a redução da massa óssea em pessoas com pobre relacionamento social pode explicar os resultados de trabalhos anteriores que mostraram que eventos stressantes como baixos níveis de otimismo e de satisfação na vida estavam associados a mais fraturas.
Com base nestes estudos os autores do trabalho sugerem a necessidade da comunidade se organizar de modo a promover uma vida social mais ativa para as mulheres idosas, no sentido de poder atrasar a desmineralização óssea e reduzir o risco de fraturas que são um problema grave de saúde pública neste grupo etário.
Fonte: Follis SL et al. Psychosocial stress and bone loss among postmenopausal women:results from the Women’s Health Iniciative. J Epidemiol Community Health, July 9, 2019
Dr Jorge Dores
Endocrinologista do Centro Hospitalar e Universitário do Porto